Dom Luciano Mendes de Almeida

Dom Luciano Mendes de Almeida

A equipe do Re.Part pensou em colocar como intercessor do crescimento e da santidade do nosso projeto o Servo de Deus Dom Luciano Mendes de Almeida. Colocar o saudoso bispo da Região Leste, que foi fundamental na criação da visão profética da ação da Caridade Social na Região Belém, significa pedir a nós mesmos e a todos os envolvidos o compromisso firme com o Evangelho e com o olhar voltado à proteção dos mais desfavorecidos, sem deixar de acolher. Com a intercessão de Dom Luciano queremos garantir a seriedade do nosso trabalho e o absoluto respeito de todos que participarão ao ‘sucesso’ deste projeto. O principal objetivo continua sendo dar Esperança a todos que batem às nossas portas.

“Posso ajudar?”

Era a expressão que Dom Luciano Mendes de Almeida

tinha sempre pronta nos lábios.

Não era uma maneira de dizer,

exprimia o desejo do seu coração,

um coração que vivia

na presença de Deus em todos os momentos.

Eu o vi sofrer por vinte anos

e depois o vi morrer;

durante a sua longa doença,

quase à morte, repetia continuamente: “Deus é bom”,

sem parar – nem entre as lágrimas –

de adorar o Senhor

que amava de todo o coração.

Nunca teria imaginado conhecer um gigante da história,

tão verdadeiro, capaz, importante, humilde.

Ernesto Olivero

 

Quem é Dom Luciano?
Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida
Rio de Janeiro, 5 de outubro de 1930 – São Paulo, 27 de agosto de 2006

Para quem o conheceu, Dom Luciano foi um santo que atravessou a história religiosa, política, econômica… do Brasil e do mundo, por onde “passou fazendo o bem”.

Quem não o conheceu, deve saber que no século passado, de 1930 a 2006, nasceu no Brasil e viveu para o mundo um homem de Deus, um homem bom, amigo da paz e dos pobres e rico em misericórdia para com todos.

Para a Fraternidade da Esperança (que cuida do Re.Part), Dom Luciano foi o maior homem que o Senhor nos fez conhecer e amar, mas também o menor que encontramos, um homem grande que nunca cessou de ser pequeno.

Não sendo possível reproduzir aqui os inúmeros testemunhos, documentos, histórias e, sobretudo, as emoções que descrevem o encontro e a amizade com ele, valemo-nos de dois breves textos:

Perguntado sobre seu modo de ser, Dom Luciano responde: “Em primeiro lugar, sinto-me chamado a viver o momento presente, sem perder, é claro, a visão do futuro. Sou um homem apaixonado pelo presente, enquanto sei que o presente não volta mais! O passado tem o seu valor, sem dúvida, na unidade da pessoa; o futuro possui a novidade da surpresa, mas o presente, o que é? É aquele momento de transparência da consciência no qual a pessoa é chamada a entrar em comunhão com Deus no evento, a partilhar o sofrimento e a alegria na presença de Deus. Isso me parece bonito: de um lado, porque a pessoa tem sempre alguma coisa a fazer, sendo chamada a viver o desafio do momento presente; do outro, tem um pouco de paz, porque cada momento leva consigo uma beleza especial, um pouco da Graça de Deus.

Outra característica minha é que me deixo envolver mais pelo sofrimento do que pela alegria, não porque o sofrimento seja maior do que a alegria, mas porque, sabendo com certeza o quanto, no mundo, o sofrimento está presente no coração dos homens, sinto vergonha de viver momentos de alegria. Parece-me que a alegria que existe no mundo seja um sinal daquela mais plena que um dia teremos, mas que hoje o chamado mais forte seja o de partilhar com os outros os momentos difíceis, o sofrimento e, exatamente, o momento presente.

Partilhar com os outros o sofrimento faz crescer em nós a experiência do amor. Sinto-me chamado a viver o presente e, no presente, a partilhar o sofrimento, a doença, a solidão e também a consciência que a pessoa pode ter do seu sofrimento, de sua pobreza.

Depois de um dia de trabalho, estou cansado; porém, embora saiba que no dia seguinte terei várias coisas para fazer, se encontro uma pessoa que sofre, sinto-me impulsionado a ir visitá-la à noite. Nem todos entendem o quanto é importante para mim a vontade de conhecer a grandeza de certas situações que, talvez segundo outras categorias humanas, parecem pequenas. Não entendem que essas coisas me dão uma força nova para enfrentar os compromissos do dia seguinte.

Outra característica de minha pessoa é uma mistura de amor por esta vida e de desejo da outra vida. Amor a esta vida, porque há muito a fazer; desejo da outra, porque é este mundo, onde há o pecado, que nos faz sofrer. É a mistura do presente com o futuro prometido que impede a vida de ser plena, enquanto a empurra para aquilo que ainda não existe; da mesma maneira, faz com que se manifeste a verdade do nosso ser e, ao mesmo tempo, a sua situação incompleta”.

Ernesto Olivero, “Unidos em favor da Paz: diálogos com D. Luciano Mendes de Almeida”, São Paulo, Loyola, 2001.

Entrevistado sobre sua amizade com Dom Luciano, Ernesto Olivero responde: “Creio que a amizade com ele seja a mais importante da nossa história. É uma grande bênção. Eu o conheci em janeiro de 1988, quando ele veio nos encontrar em Turim. A imagem que eu tinha dele era a de um grande prelado, e quem veio me encontrar, na realidade, foi um padre humilde, vestido modestamente. Queríamos que ele nos falasse do Brasil, mas acabou nos falando do Líbano, onde estivera havia pouco. Sugeriu-me que eu fosse até lá, apresentou-me ao patriarca maronita, que me convidou a visitar seu país, onde encontrei os jovens libaneses. Graças à amizade com Dom Luciano, que entrou tão inesperadamente em nossa vida, pudemos fazer obras de caridade no Líbano, na Somália, em Ruanda, no Iraque. Ter conhecido um homem tão enraizado em Deus e na Igreja, tão disponível, foi realmente um dos dons mais belos que o Senhor nos concedeu. Mudou a nossa vida. Graças a Dom Luciano, o Oriente Médio se tornou a nossa casa. Se o Brasil, hoje, é também nossa casa, se em 1996 pudemos criar em São Paulo o Arsenal da Esperança, que todos os dias fornece acolhida para milhares de pessoas, foi graças a ele”.

Paolo Mattei, “O início? Uma comoção à qual eu disse sim”, em 30 Dias, n. 2, 2004.

Notas biográficas

Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida nasce no Rio de Janeiro em 5 de outubro de 1930. Aos 17 anos entra na Companhia de Jesus. Cursa Filosofia em Nova Friburgo entre os anos de 1951 a 1953 e, em Roma, estuda Teologia de 1955 a 1958.

É ordenado bispo em 2 de maio de 1976 pelo Papa Paulo VI e por 12 anos desenvolve seu ministério como bispo auxiliar do Cardeal Paulo Evaristo Arns em São Paulo, na região leste, uma das regiões operárias e pobres da cidade.

Foi-lhe ainda confiada a coordenação da ação pastoral dos menores abandonados e dos que tem pendências com a lei. Neste período organiza casas para acolher as crianças abandonadas.

Em 1988 é nomeado bispo de Mariana, em Minas Gerais. Assume várias funções a serviço da Igreja. Trabalha na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) como secretário geral de 1979 a 1987 e como presidente de 1987 a 1994. Membro do Conselho permanente do Sínodo dos Bispos em 1987. Membro da Pontifícia Comissão Justiça e Paz desde 1992. Vice-presidente do CELAM (Conselho dos Bispos Latino-Americanos) de 1995 a 1998.

Como bispo de Mariana dá um forte impulso pastoral. Entre outras realizações podem ser citadas: a organização da Arquidiocese em cinco regiões pastorais; uma particular atenção à formação permanente do clero; a organização das pastorais do catecismo, da liturgia, da infância, do menor, da juventude, de vocação e ministério e familiar. Investimento nos meios de comunicação, na organização de obras sociais para a educação e na valorização dos jovens e dos pobres, além da assistência aos anciãos. Os múltiplos empenhos pastorais nunca lhe impedem de escutar e – quando possível – de ajudar aqueles que batem à porta de sua casa.

Ernesto Olivero (fundador do SERMIG e do Arsenal da Esperança), ligado a Dom Luciano por uma amizade profunda, assim o descreve: “Homem que sabe esperar contra toda a esperança, com a sabedoria de um grande e a simplicidade de uma criança. A sua paciência é inesgotável, a sua bondade é enorme. Não tem hora para comer ou dormir, não se concede um segundo de repouso. Viaja continuamente apressado, de carro, avião, para cumprir a sua missão. Utiliza com frequência a mídia a serviço do Evangelho, evidenciando com extrema lucidez os problemas de seu país, do mundo e da Igreja. É alguém que não se contenta em já ter feito, mas faz, não se contenta em já ter amado, mas ama continuamente. O sofrimento físico foi seu companheiro por muitos anos, mas nunca o impediu de continuar a amar”.

Em um acidente de automóvel na estrada de Belo Horizonte a Mariana, em fevereiro de 1990, fica gravemente ferido, e o padre Ângelo Mosena, que viajava com ele, perde a vida. Depois do acidente sucederam-se diversas cirurgias. Em uma transfusão de sangue Dom Luciano contrai hepatite C, que contribui para um câncer no fígado que o leva ao encontro com o Pai no domingo, dia 27 de agosto de 2006.

Ao se completarem cinco anos de sua morte, Dom Geraldo Lyrio Rocha, na época presidente da CNBB, anuncia o envio à Congregação para as Causas dos Santos do pedido de autorização para dar início ao processo de beatificação de Dom Luciano. O pedido tem o respaldo de mais de 300 bispos reunidos na assembleia geral da CNBB, em maio de 2011.

Paolo Mattei, “O início? Uma comoção à qual eu disse sim”, em 30 Dias, n. 2, 2004.

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